sábado, 15 de agosto de 2009

A ética do Senado encontra esconderijo insuspeitado

Afastada a possibilidade de o Senado se auto-investigar, resta à platéia confiar no Ministério Público e na Polícia Federal.

A Procuradoria e a PF abriram uma dezena de frentes de investigação. Esquadrinham os malfeitos. Procuram o criminoso –ou criminosos.

Tomado pela quantidade de liames, o caso parece intrincado. Visto pelo ângulo da lógica, é simples. Suponha uma reunião dos investigadores:

- Pessoal, ou recorremos à lógica ou não chegaremos a lugar nenhum. Pra começar, o clássico: policial tem de se colocar no lugar do bandido.

- Como assim, senhor?

- Ponham-se no lugar do criminoso. Pela lógica, podemos supor que é senador. Deve ser senador. Senadores talvez, no plural.

Um dos presentes salta da cadeira. Leva as mãos aos bolsos, protegendo-os.

- O que é isso, agente Silva?

- Desculpe, delegado, é que o agente Cavalcante me olhou de forma estranha. Esse bigode... Sei não... Vai que leva a sério essa coisa de incorporar um senador!

O delegado Sanches, impaciente, soca a mesa:

- Por favor, senhores, concentração. Retomando: tentem pensar como os criminosos. Os holofotes no encalço deles. Alvoroços diários. Um esconde-esconde sem fim. Onde buscar refúgio?

- Senhor...

- Diga, agente Palhares.

- O Agaciel fez aquela sala secreta no Senado. Ali, talvez...

- Esqueçam o Agaciel. Lógica, pessoal. Usem a lógica. Senador. Ou senadores.

- Já sei, delegado Sanches! Os criminosos podem estar escondidos debaixo daquela montanha de atos secretos.

- Ora, francamente, agente Silva. Um esconderijo de papel?

- Metaforicamente, senhor.

- Sem metáforas, por favor. Lógica. Quero a lógica.

Súbito, o agente Cavalcante, põe-se a enrolar as pontas do bigode. Os companheiros conheciam o agente Cavalcante. Quando levava as mãos à pelagem cultivada sobre o lábio superior, era batata.

- Senhor...

- Diga, agente Cavalcante.

A reunião dura mais cinco minutos. Tempo suficiente para que o agente Cavalcante despeje sua tese sobre a mesa.

Segue-se grande azáfama. Corre-corre. Lufa-lufa. Os policiais descem à garagem. Enfiam-se nas viaturas. Partem cantando os pneus.

Decorridos mais 20 minutos, cinco viaturas da PF estacionam defronte do Centro Cultural do Banco do Brasil, sede provisória do governo.

Invadem o prédio. Irrompem na sala de Lula. O presidente estava reunido com Sarney e Renan.

Lula festejava a rendição dos senadores do PT no Conselho de (a)Ética. Renan mencionava a hipótese de beliscar votos nas fileiras tucanas e ‘demos’. Sarney ria.

O agente Cavalcante rejubila-se:

- Eu não disse!

E o delegado Sanches:

- É a lógica!

Procuradores e policiais, hoje concentrados no Senado, deveriam voltar os olhos para os arredores de Lula.

O presidente, o país já o conhece, nunca sabe de nada. É incapaz de enxergar um suspeito atrás de um aliado. Que refúgio seria mais seguro do que a sala de Lula?

Escrito por Josias de Souza

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